"BLEULER E A INVENÇÃO DA ESQUIZOFRENIA"
Márcio Costa
Psicanalista Clinico
Analista do Comportamento Aplicado
O artigo "Bleuler e a invenção da esquizofrenia" de Mário Eduardo Costa Pereira oferece uma análise aprofundada e esclarecedora sobre o papel revolucionário de Eugen Bleuler na construção do conceito moderno de esquizofrenia. A narrativa histórica apresentada pelo autor contextualiza a época em que Bleuler publicou sua obra seminal, "Demência precoce ou o grupo das esquizofrenias" em 1911, e ressalta a importância do pensamento de Bleuler para a psicopatologia.
O autor destaca o percurso acadêmico e profissional de Bleuler, que incluiu formação na Suíça, estudos com renomados psiquiatras como Charcot e Magnan em Paris, e sua subsequente contribuição à Clínica Universitária de Burghölzli em Zurique. O ambiente intelectual do Burghölzli, com a presença de assistentes notáveis como Carl Gustav Jung, Karl Abraham e Ludwig Binswanger, é destacado como um caldeirão de ideias que influenciaram profundamente a abordagem de Bleuler.
O autor discute o interesse transitório de Bleuler na psicanálise, evidenciando sua resenha ambivalente dos "Estudos sobre a histeria" de Breuer e Freud, e como Jung, o principal assistente de Bleuler na época, liderou a aproximação da psiquiatria à psicanálise. Esse período foi crucial para a formação do pensamento de Bleuler, especialmente quando Jung publicou seus "Estudos de diagnóstico de associação" e "A psicologia da demência precoce", obras que influenciaram significativamente Bleuler em sua abordagem da demência precoce.
O texto destaca a crítica de Bleuler à abordagem de Emil Kraepelin em relação à "demência precoce". Enquanto Kraepelin propunha uma categorização ampla e unitária, Bleuler introduziu o conceito de "esquizofrenias" em 1906, desafiando a visão unitária kraepeliniana. A resenha aprofunda a análise da proposta de Bleuler, explorando a distinção entre sintomas primários e secundários, revelando a abordagem psicopatológica única de Bleuler na compreensão da esquizofrenia.
A resenha também explora a crítica de Bleuler ao critério evolutivo de Kraepelin, destacando a introdução do conceito de "sintomas fundamentais" como uma tentativa de circunscrever a esquizofrenia independentemente da evolução clínica. A ênfase de Bleuler na ruptura do eu como fenômeno central e a rejeição da deterioração terminal como via única de evolução são aspectos cruciais destacados na resenha.
Em conclusão, o artigo oferece uma análise abrangente e crítica do trabalho de Bleuler, demonstrando como suas contribuições foram fundamentais para a transformação do entendimento da esquizofrenia, afastando-se dos limites nosográficos kraepelinianos e lançando as bases para uma abordagem mais psicopatológica e dinâmica das psicoses.
Fonte:
"BLEULER E A INVENÇÃO DA ESQUIZOFRENIA". Rev. Latinoam. Psicop. Fund., III, 1, 158-Disponível em mário.p65 (scielo.br). lido em 04/03/2024

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