Clinica do Autismo em Psicanálise
Márcio Costa
Psicanalista Clinico
Analista do Comportamento Aplicado
Clínica do Autismo na Psicanálise
A clínica do autismo na psicanálise é um campo complexo e multifacetado que busca compreender e tratar as manifestações do autismo através de uma abordagem psicanalítica. O autismo, caracterizado por dificuldades na comunicação, interação social e comportamentos repetitivos, apresenta desafios únicos que exigem uma compreensão profunda das dinâmicas psíquicas subjacentes.
Compreensão Psicanalítica do Autismo
Na psicanálise, o autismo é frequentemente visto como uma defesa contra experiências emocionais avassaladoras e ansiedades primitivas. Psicanalistas como Donald Meltzer, Frances Tustin e Bruno Bettelheim contribuíram significativamente para essa compreensão. Meltzer, por exemplo, explorou a "vida emocional dos autistas", destacando as defesas primitivas e os estados mentais autísticos como mecanismos de proteção contra a angústia psicótica. Frances Tustin, por sua vez, focou nas experiências sensoriais e corporais das crianças autistas, propondo que o autismo pode ser uma resposta defensiva a sentimentos de desintegração do self.
Abordagens Terapêuticas
A prática clínica com crianças autistas na psicanálise envolve várias abordagens terapêuticas, todas centradas na criação de um ambiente seguro e acolhedor que permita à criança explorar e expressar suas emoções. A observação detalhada e a escuta atenta são fundamentais para entender as necessidades e os estados emocionais da criança.
1. Terapia de Jogo
O jogo é uma ferramenta essencial na terapia psicanalítica com crianças autistas. Através do jogo, as crianças podem expressar sentimentos e conflitos internos que não conseguem verbalizar. O terapeuta observa e participa do jogo, ajudando a criança a dar sentido às suas experiências e a desenvolver um sentido mais integrado de si mesma.
2. Trabalho com os Pais
Os pais desempenham um papel crucial no tratamento psicanalítico do autismo. A terapia frequentemente envolve sessões com os pais para ajudá-los a entender as necessidades emocionais de seus filhos e a desenvolver estratégias para apoiar seu desenvolvimento. A relação entre pais e terapeuta é fundamental para criar um ambiente terapêutico consistente e seguro.
3. Foco nas Experiências Sensoriais
Inspirados pelo trabalho de Frances Tustin, muitos psicanalistas focam nas experiências sensoriais das crianças autistas. A terapia pode envolver atividades que ajudam a criança a se conectar com seu corpo e suas sensações, promovendo uma maior integração entre mente e corpo.
Desafios e Considerações Éticas
A clínica do autismo na psicanálise enfrenta vários desafios, incluindo a necessidade de adaptar as técnicas terapêuticas às necessidades individuais de cada criança. Além disso, é crucial abordar o autismo com sensibilidade e respeito, evitando teorias desatualizadas e estigmatizantes, como a ideia das "mães refrigeradoras" proposta por Bruno Bettelheim.
Conclusão
A clínica do autismo na psicanálise oferece uma abordagem profunda e empática para entender e tratar o autismo. Ao focar nas experiências emocionais e sensoriais das crianças, os psicanalistas podem ajudar a promover um desenvolvimento mais integrado e saudável. Embora os desafios sejam muitos, a dedicação à compreensão e ao apoio das crianças autistas e suas famílias continua a ser uma área vital e em constante evolução na psicanálise.
Claro! Aqui estão algumas referências bibliográficas de acordo com as normas da ABNT que podem ser usadas para fundamentar o texto sobre a clínica do autismo na psicanálise:
Referências Bibliográficas
1. MELTZER, Donald.A vida emocional dos autistas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
2. TUSTIN, Frances. Autistic States in Children. London: Routledge, 1981.
3. TUSTIN, Frances. Autism and Childhood Psychosis. London: Hogarth Press, 1972.
4. BETTELHEIM, Bruno.The Empty Fortress: Infantile Autism and the Birth of the Self. New York: Free Press, 1967.
5. KANNER, Leo. Autistic Disturbances of Affective Contact. Nervous Child, v. 2, p. 217-250, 1943.
6. WINNICOTT, Donald W.Playing and Reality. London: Tavistock Publications, 1971.
7. KLEIN, Melanie. The Psycho-Analysis of Children. London: Hogarth Press, 1932.
8. SEGAL, Hanna.Introduction to the Work of Melanie Klein. London: Karnac Books, 1988.

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