Encadeamento e Fading no Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Autor: 

Márcio Gomes da Costa

Psicanalista, Analista do Comportamento, Graduando em Psicopedagogia.


 

Resumo:

Este artigo aborda as técnicas de encadeamento e fading dentro da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para o tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O encadeamento é utilizado para dividir tarefas complexas em passos menores, facilitando o aprendizado por meio de reforços graduais. O fading consiste na remoção gradual de ajudas, promovendo a autonomia da criança nas atividades. Ambas as técnicas são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades sociais e de autocuidado em crianças com TEA.

Encadeamento, Fading, Intervenção, Habilidades, TEA.


Introdução

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem se mostrado eficaz no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialmente na aquisição de habilidades complexas. Duas das estratégias mais utilizadas dentro dessa abordagem são o encadeamento e o fading. Esses métodos são essenciais para desenvolver independência nas atividades diárias e acadêmicas de indivíduos com TEA. Ambos os métodos visam à promoção da aprendizagem de forma gradual, facilitando o entendimento e a execução de tarefas complexas (Sella, 2019).

Desenvolvimento

Encadeamento

O encadeamento é uma técnica que envolve a divisão de uma tarefa complexa em passos menores, de maneira que cada resposta correta conduz ao passo seguinte. Isso permite que a criança aprenda a realizar atividades complexas como lavar as mãos ou se vestir. Cada passo da tarefa é ensinado individualmente, e o reforço positivo é aplicado a cada passo aprendido, até que a tarefa completa seja realizada sem ajuda (Gomes, 2021).

Existem três tipos de encadeamento usados na ABA: encadeamento direto, encadeamento reverso e encadeamento total. No encadeamento direto, o primeiro passo da tarefa é ensinado primeiro, e então os passos subsequentes são introduzidos um a um. No encadeamento reverso, o último passo da tarefa é ensinado primeiro, de forma que o indivíduo realize a última parte da sequência antes de aprender as partes anteriores. No encadeamento total, todos os passos da tarefa são ensinados de uma só vez, com ajuda total sendo fornecida para todas as etapas até que o aluno ganhe independência em cada uma delas (Sella, 2019).

Por exemplo, ao ensinar uma criança com TEA a lavar as mãos, pode-se começar com o ensino do primeiro passo, como ligar a torneira. Uma vez que o aluno tenha aprendido a realizar essa etapa de forma independente, passa-se para o segundo passo, e assim por diante, até que ele seja capaz de completar todo o processo de maneira autônoma (Brites & Brites, 2020).

Fading

O fading é uma técnica que consiste na remoção gradual de ajudas ou pistas, até que a criança seja capaz de realizar uma tarefa de forma independente. Quando uma tarefa nova é introduzida, geralmente o terapeuta oferece ajuda física ou verbal para garantir que o indivíduo tenha sucesso na tarefa. Com o tempo, essas ajudas são gradualmente diminuídas, permitindo que o aluno desenvolva a capacidade de executar a tarefa sem assistência (Gomes, 2021).

Existem vários tipos de fading, incluindo o fading de ajudas físicas, ajudas visuais, ajudas verbais e ajudas gestuais. Por exemplo, em uma tarefa em que a criança precisa colocar seus sapatos, pode-se começar com ajuda física (guiando as mãos da criança) e gradualmente reduzir a assistência até que a criança faça isso de forma autônoma (Sella, 2019). O uso eficaz de fading ajuda a evitar a dependência excessiva de ajudas e promove a generalização das habilidades aprendidas para diferentes contextos (Brites & Brites, 2020).

O fading também pode ser aplicado na fase de transição de reforçadores externos para reforçadores intrínsecos. No início de uma intervenção, o comportamento adequado pode ser reforçado com um item favorito ou elogio, mas, com o tempo, o comportamento deve ser mantido por reforçadores naturais, como o sentimento de sucesso pessoal ou a satisfação em realizar a tarefa (Gomes, 2021).

Aplicações Clínicas no TEA

Crianças com TEA apresentam desafios em tarefas cotidianas e habilidades sociais. O uso de encadeamento e fading tem se mostrado eficaz no ensino de habilidades como higiene pessoal, arrumação de brinquedos e comportamentos apropriados em situações sociais (Sella, 2019). Essas técnicas são flexíveis e podem ser adaptadas para atender às necessidades individuais de cada criança, promovendo o desenvolvimento de autonomia e habilidades sociais essenciais (Gomes, 2021).

Estudos mostram que o uso de encadeamento é eficaz na aquisição de habilidades de autocuidado e que o fading contribui para a generalização dessas habilidades para outros ambientes e contextos. Além disso, a implementação dessas estratégias de forma consistente pode levar a uma redução significativa de comportamentos inadequados, uma vez que a criança aprende a completar tarefas de maneira autônoma e apropriada (Brites & Brites, 2020).

Conclusão

O encadeamento e o fading são métodos centrais no ensino de habilidades complexas para crianças com TEA. Ambos visam à promoção da independência e ao aumento da capacidade de lidar com tarefas cotidianas e sociais. Ao dividir tarefas complexas em partes menores e ao remover gradualmente as ajudas, essas técnicas permitem que o aluno aprenda no seu próprio ritmo e, eventualmente, adquira autonomia nas atividades diárias. A prática contínua e o reforçamento positivo contribuem para o sucesso dessas intervenções, que são uma parte essencial da ABA (Sella, 2019).

Referências Bibliográficas

  • BRITES, L., & BRITES, C. Crianças Desafiadoras: Como lidar com questões comportamentais. São Paulo: WAK Editora, 2020.
  • GOMES, C. G. S. Ensino de Habilidades Básicas para Pessoas com Autismo. CEI, 2021.
  • SELLA, A. C. Análise do Comportamento Aplicada ao TEA. São Paulo: Pearson, 2019

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