O Futuro de uma Ilusão: A Religião e sua Crítica no Volume 18 de Sigmund Freud

 


Autor: Márcio Gomes da Costa, Psicanalista, Analista do Comportamento Aplicada e Psicopedagogo

Resumo:
O Volume 18 das Obras Completas de Sigmund Freud aborda a crítica da religião em "O Futuro de uma Ilusão", onde Freud argumenta que as crenças religiosas são ilusões que satisfazem desejos inconscientes. Freud sugere que a religião é uma projeção dos desejos infantis de proteção e segurança, mas que, ao mesmo tempo, pode limitar o desenvolvimento da racionalidade e da autonomia. Este artigo discute as contribuições desse volume para a compreensão da religião sob a ótica da psicanálise e as implicações de suas críticas para a sociedade moderna.

Palavras-chave: Religião, ilusão, psicanálise, Freud, crítica.


Introdução
No Volume 18, Freud aborda um dos temas mais polêmicos e influentes de sua obra: a crítica da religião. Em "O Futuro de uma Ilusão", Freud propõe que a religião é uma ilusão que, embora ofereça conforto e estrutura para a vida humana, é baseada em desejos inconscientes e projeções infantis. Ele argumenta que a religião, ao satisfazer essas necessidades emocionais, pode impedir o desenvolvimento da racionalidade e da autonomia.

Este artigo explora as contribuições desse volume para a teoria psicanalítica e discute as implicações das críticas de Freud à religião para a compreensão da cultura e da sociedade moderna.


Desenvolvimento

Freud inicia o Volume 18 com a definição de ilusão, que ele distingue de erro ou engano. Ele argumenta que uma ilusão não é necessariamente falsa, mas é uma crença que surge de desejos humanos profundamente enraizados. No caso da religião, Freud sugere que as crenças religiosas são ilusões porque são baseadas no desejo de proteção, imortalidade e justiça, que são projeções dos desejos infantis de segurança e amor paternal.

Um dos conceitos centrais discutidos neste volume é a origem da religião na vida psíquica infantil. Freud propõe que a necessidade de uma figura paterna protetora, que é central na infância, é projetada na figura de Deus na vida adulta. A religião, portanto, satisfaz o desejo de proteção e segurança, fornecendo uma estrutura moral e um sentido de ordem no mundo. No entanto, Freud sugere que essa satisfação é ilusória, pois é baseada em desejos inconscientes e não em uma realidade objetiva.

Freud também explora o papel da religião na manutenção da ordem social. Ele argumenta que a religião tem sido historicamente utilizada para justificar normas morais e manter a coesão social. As doutrinas religiosas impõem padrões de comportamento que, segundo Freud, estão intimamente ligados ao superego coletivo. A religião, ao promover a repressão dos desejos instintuais, contribui para a formação da civilização, mas também perpetua o mal-estar ao reprimir os impulsos naturais do indivíduo.

Outro aspecto importante abordado no Volume 18 é a crítica à religião como uma limitação ao progresso humano. Freud argumenta que a religião, ao satisfazer os desejos infantis de proteção e segurança, pode inibir o desenvolvimento da racionalidade e da autonomia. Ele sugere que a adesão a crenças religiosas impede os indivíduos de confrontarem a realidade de maneira crítica e de desenvolverem uma compreensão científica do mundo. Freud vê a religião como uma forma de consolo, mas que, ao mesmo tempo, limita o crescimento psíquico e intelectual.

Freud também discute as consequências psicológicas da religião. Ele sugere que a crença em um Deus protetor pode aliviar a ansiedade e o medo da morte, mas ao custo de criar uma dependência emocional que perpetua a infantilização do indivíduo. Freud argumenta que, para alcançar a maturidade psíquica, os indivíduos devem superar as ilusões religiosas e confrontar a realidade de maneira direta, aceitando a finitude da vida e a incerteza do futuro.

Além disso, Freud explora a relação entre religião e neurose. Ele sugere que a religião pode ser vista como uma neurose coletiva, onde as crenças e práticas religiosas funcionam como sintomas neuróticos que oferecem uma solução temporária para os conflitos internos. No entanto, assim como na neurose individual, essas soluções são insatisfatórias a longo prazo, pois não resolvem os conflitos subjacentes, mas apenas os mascaram.

Freud também utiliza exemplos históricos e culturais para ilustrar como a religião tem desempenhado um papel central na formação da cultura e na regulação do comportamento humano. Ele observa que, embora a religião tenha sido fundamental para a coesão social em épocas passadas, o avanço da ciência e da racionalidade oferece novas formas de compreender o mundo e enfrentar os desafios da vida. Freud sugere que, no futuro, a religião pode perder sua influência à medida que as pessoas busquem formas mais racionais e científicas de entender a existência.

Outro ponto central abordado neste volume é a utopia de uma civilização sem religião. Freud questiona se uma sociedade verdadeiramente racional e científica seria possível sem a religião, e quais seriam as implicações psíquicas e sociais de tal mudança. Ele é cauteloso em afirmar que a religião será completamente superada, mas defende que a humanidade deve se esforçar para alcançar um estado de maturidade psíquica onde as ilusões religiosas não sejam mais necessárias.


Conclusão
O Volume 18 das Obras Completas de Sigmund Freud, centrado em "O Futuro de uma Ilusão", oferece uma crítica profunda e provocativa da religião sob a ótica da psicanálise. Freud sugere que a religião, ao satisfazer desejos inconscientes e infantis, limita o desenvolvimento da racionalidade e da autonomia, perpetuando uma forma de neurose coletiva.

Este volume é essencial para profissionais e estudantes de psicanálise, bem como para qualquer pessoa interessada em explorar a relação entre religião, cultura e psique. Ao reler este volume, podemos apreciar as contribuições de Freud para a crítica cultural e a compreensão da religião como um fenômeno psíquico.


Referência
FREUD, Sigmund. Volume 18. Obras Completas. 

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