O Homem Moisés e a Religião Monoteísta: Um Retorno ao Estudo da Religião no Volume 21 de Sigmund Freud

Autor: Márcio Gomes da Costa, Psicanalista, Analista do Comportamento Aplicada e Psicopedagogo

Resumo:
O Volume 21 das Obras Completas de Sigmund Freud revisita o tema da religião com foco no estudo de Moisés e a religião monoteísta. Freud continua sua investigação sobre as origens do monoteísmo e sua relação com a identidade cultural do povo judeu, expandindo suas teorias anteriores. Este volume é uma reflexão crítica sobre a influência da religião na formação da psique coletiva e na construção da civilização. Este artigo explora as principais contribuições deste volume para a teoria psicanalítica e para a compreensão da religião como um fenômeno cultural e psíquico.

Palavras-chave: Moisés, monoteísmo, religião, Freud, psicanálise.


Introdução
No Volume 21, Freud retoma e aprofunda seu estudo sobre a figura de Moisés e a religião monoteísta, um tema que ele já havia explorado em volumes anteriores. Este volume continua a investigação de Freud sobre as raízes psíquicas e culturais da religião, focando em como a figura de Moisés e a transição para o monoteísmo moldaram a identidade coletiva do povo judeu e, por extensão, da civilização ocidental.

Este artigo analisa as principais contribuições desse volume para a teoria psicanalítica e discute as implicações das teorias de Freud sobre a religião e a identidade cultural.


Desenvolvimento

Freud inicia o Volume 21 com uma reavaliação de sua tese anterior sobre Moisés e sua possível origem egípcia. Ele sugere que Moisés era um seguidor do faraó Akhenaton e adotou a religião monoteísta de Aton, que ele posteriormente impôs ao povo hebreu. Freud argumenta que essa transição para o monoteísmo foi um evento traumático para o povo hebreu, levando à repressão e ao surgimento de complexos culturais duradouros.

Um dos conceitos centrais discutidos neste volume é o de memória coletiva e como traumas históricos podem ser reprimidos e mantidos no inconsciente coletivo de um povo. Freud sugere que o assassinato de Moisés pelos próprios hebreus, um evento que ele considera um parricídio simbólico, foi reprimido e, mais tarde, transformado em mito. Esse evento, segundo Freud, deixou uma marca indelével na psique coletiva do povo judeu, moldando suas crenças e práticas religiosas.

Freud também explora a ideia de que o monoteísmo introduziu um novo tipo de autoridade superegoica no inconsciente coletivo. A adoção de um Deus único e todo-poderoso exigiu uma internalização das normas e mandamentos divinos, o que Freud sugere que tenha contribuído para o desenvolvimento de uma ética rigorosa e uma sensação ampliada de culpa dentro da cultura judaica. Esse superego coletivo, segundo Freud, é responsável pela persistência da religião monoteísta e pela sua capacidade de moldar a moralidade e o comportamento social.

Outro aspecto importante discutido no Volume 21 é a repressão cultural e como ela se manifesta na religião. Freud argumenta que as práticas e crenças religiosas muitas vezes servem para reprimir desejos e impulsos instintuais que são considerados inaceitáveis. A religião, ao impor regras e rituais, ajuda a manter a ordem social, mas também perpetua o mal-estar ao exigir a renúncia de impulsos naturais. Freud sugere que essa repressão é uma das razões pelas quais a religião continua a ser uma força poderosa na vida psíquica e social.

Freud também reflete sobre o conceito de ambivalência em relação à figura de Moisés e à religião que ele estabeleceu. Ele sugere que, enquanto Moisés é venerado como o grande líder e legislador, há também sentimentos inconscientes de ressentimento e hostilidade em relação a ele, resultantes da imposição de uma nova ordem religiosa. Essa ambivalência, segundo Freud, é típica dos sentimentos que as figuras paternas evocam, tanto na vida individual quanto na coletiva.

O Volume 21 inclui uma análise da persistência do monoteísmo e sua influência duradoura na cultura ocidental. Freud sugere que o monoteísmo, ao centralizar a figura divina e criar um conjunto unificado de normas e crenças, desempenhou um papel crucial na formação das grandes religiões monoteístas, como o cristianismo e o islamismo. Ele argumenta que essas religiões, ao perpetuar o monoteísmo, também perpetuam os complexos psíquicos e culturais associados a ele.

Freud também discute as implicações clínicas de sua teoria da religião. Ele sugere que a análise psicanalítica pode ajudar os indivíduos a compreender as raízes inconscientes de suas crenças religiosas e a lidar com os conflitos internos que surgem da repressão religiosa. Freud argumenta que, ao trazer esses conflitos à consciência, é possível aliviar o mal-estar psíquico associado à religião e promover um maior grau de autonomia e racionalidade.

Outro ponto central abordado neste volume é a influência da religião na civilização. Freud observa que, embora a religião tenha desempenhado um papel crucial na coesão social e na moralidade, ela também tem sido uma fonte de conflito e divisão. Ele sugere que a religião, ao impor uma visão de mundo rígida e dogmática, pode limitar o desenvolvimento intelectual e emocional dos indivíduos e das sociedades.

Freud conclui o Volume 21 com uma reflexão sobre o futuro da religião e sua possível superação. Embora reconheça a profunda influência da religião na psique coletiva, ele sugere que o avanço da ciência e da racionalidade pode eventualmente substituir a religião como a principal fonte de sentido e moralidade. No entanto, Freud é cauteloso em suas previsões, reconhecendo a força duradoura das crenças religiosas e o desafio de superá-las.


Conclusão
O Volume 21 das Obras Completas de Sigmund Freud, centrado em "O Homem Moisés e a Religião Monoteísta", oferece uma análise profunda e complexa das origens do monoteísmo e sua influência na identidade cultural e psíquica do povo judeu. Freud sugere que a religião, ao reprimir traumas e desejos inconscientes, molda profundamente a civilização e a psique coletiva.

Este volume é essencial para profissionais e estudantes de psicanálise, bem como para aqueles interessados na história da religião e na identidade cultural. Ao reler este volume, podemos apreciar as contribuições de Freud para a compreensão da religião como um fenômeno psíquico e cultural.


Referência
FREUD, Sigmund. Volume 21. Obras Completas

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Princípio do Prazer e a Busca pela Satisfação no Volume 13 de Sigmund Freud

RESUMO DAS PRINCIPAIS OBRAS DE FREUD: "O Ego e o Id" (Das Ich und das Es)" - 1923:

A Pulsão de Morte e a Dualidade das Pulsões no Volume 12 de Sigmund Freud