Punição e Reforçamento Negativo no TEA
Autor: Márcio Gomes da Costa,
Psicanalista, Analista do Comportamento, Graduando em Psicopedagogia.
Resumo:
Palavras-chave: TEA, punição, reforçamento negativo, ABA, comportamentos desafiadores.
Introdução
No contexto do tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) utiliza diversos métodos para reduzir comportamentos inadequados e promover o desenvolvimento de habilidades adequadas. Entre esses métodos, destacam-se a punição e o reforçamento negativo, ambos utilizados para diminuir ou alterar comportamentos indesejados (Sella, 2019). O objetivo deste artigo é diferenciar punição de reforçamento negativo, apresentar suas aplicações clínicas no contexto do TEA e discutir as implicações éticas de seu uso.
Desenvolvimento
Reforçamento Negativo
O reforçamento negativo é uma técnica em que um estímulo aversivo é removido após a emissão de um comportamento adequado, a fim de aumentar a probabilidade de que esse comportamento ocorra novamente. Esse método é frequentemente mal interpretado, sendo confundido com punição, porém seu objetivo é reforçar, e não punir (Sella, 2019).
Por exemplo, em uma situação em que uma criança com TEA está sendo exposta a um som alto e desagradável, o som pode ser removido (o estímulo aversivo) assim que a criança cumprir uma tarefa ou demonstrar o comportamento desejado, como sentar-se adequadamente ou concluir uma atividade. Isso aumenta a probabilidade de a criança repetir o comportamento para evitar o som desconfortável (Gomes, 2021).
A aplicação do reforçamento negativo no tratamento do TEA precisa ser bem estruturada, uma vez que, se mal utilizada, pode criar situações de fuga ou esquiva, nas quais a criança aprende a evitar determinadas atividades ou interações (Brites & Brites, 2020). Por isso, o uso deve ser sempre combinado com estratégias de reforçamento positivo, garantindo que a criança não apenas fuja de estímulos aversivos, mas também aprenda novos comportamentos adequados.
Punição
A punição, por sua vez, envolve a introdução de um estímulo aversivo ou a retirada de um reforçador positivo após a emissão de um comportamento inadequado, com o objetivo de reduzir a ocorrência desse comportamento (Sella, 2019). Existem dois tipos principais de punição:
- Punição positiva: Consiste em adicionar um estímulo aversivo, como uma repreensão verbal ou uma tarefa desagradável.
- Punição negativa: Consiste na retirada de algo que a criança gosta, como um brinquedo ou o tempo de recreação (Gomes, 2021).
A punição, no entanto, não ensina comportamentos novos ou desejáveis, mas apenas suprime o comportamento inadequado. Um exemplo de punição seria a retirada de um brinquedo após uma criança com TEA ter um comportamento agressivo. Embora a punição possa reduzir a frequência de comportamentos inadequados, deve-se ter cuidado ao aplicá-la, pois seu uso frequente pode levar a efeitos colaterais, como aumento da ansiedade ou comportamentos de evasão (Brites & Brites, 2020).
Diferenças entre Reforçamento Negativo e Punição
Embora ambos os métodos sejam utilizados para modificar o comportamento, reforçamento negativo e punição diferem em seus objetivos e aplicações. O reforçamento negativo visa aumentar a frequência de um comportamento removendo um estímulo aversivo, enquanto a punição busca reduzir a ocorrência de um comportamento introduzindo ou retirando estímulos (Sella, 2019).
Um ponto importante é que o reforçamento negativo, quando aplicado corretamente, pode ajudar a criança a desenvolver comportamentos adaptativos, enquanto a punição, por si só, não ensina novos comportamentos. Por exemplo, se uma criança começa a fazer sua lição de casa para evitar perder o recreio (punição negativa), esse comportamento pode ser mantido a longo prazo. Entretanto, é essencial que o comportamento adequado também seja reforçado positivamente, para que a criança associe a realização da tarefa a uma consequência agradável (Gomes, 2021).
Implicações Clínicas no TEA
No tratamento de crianças com TEA, a aplicação da punição e do reforçamento negativo pode ser controversa, uma vez que ambas as técnicas podem provocar efeitos colaterais indesejados. A punição, especialmente, deve ser utilizada com muito cuidado e somente quando necessário, sendo sempre preferível utilizar métodos de reforçamento positivo para promover comportamentos desejáveis (Brites & Brites, 2020).
Pesquisas indicam que, quando o reforçamento negativo é usado corretamente, pode ser uma ferramenta eficaz para motivar crianças com TEA a adotarem comportamentos adequados. No entanto, deve ser sempre acompanhado de estratégias que ensinem e reforcem comportamentos alternativos (Gomes, 2021).
Considerações Éticas
A ABA, como prática ética, prioriza o bem-estar da criança e defende o uso de intervenções baseadas em evidências científicas. Nesse sentido, o uso de punição deve ser sempre o último recurso e aplicado com cautela, garantindo que os princípios éticos, como a dignidade e a autonomia da criança, sejam preservados (Brites & Brites, 2020).
Conclusão
O reforçamento negativo e a punição são métodos válidos e eficazes no manejo de comportamentos inadequados em crianças com TEA, mas precisam ser aplicados com prudência e de forma ética. Embora a punição possa reduzir comportamentos indesejados, o foco deve estar na promoção de comportamentos desejáveis, por meio do reforçamento positivo. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) deve sempre buscar estratégias que ensinem e motivem a criança a adotar comportamentos adaptativos e funcionais, garantindo seu bem-estar emocional e social.
Referências Bibliográficas
- BRITES, L., & BRITES, C. Crianças Desafiadoras: Como lidar com questões comportamentais. São Paulo: WAK Editora, 2020.
- GOMES, C. G. S. Ensino de Habilidades Básicas para Pessoas com Autismo. CEI, 2021.
- SELLA, A. C. Análise do Comportamento Aplicada ao TEA. São Paulo: Pearson, 2019

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